Processo de Design | Real Case
Criando uma solução digital do zero com abordagem MVP
O que é MVP
Quem não é da área de produtos ou de design pode estranhar esta sigla, mas ela significa o mínimo produto viável (do inglês Minimum Viable Product), ou seja um conjunto de funcionalidades que atendem minimamente a uma necessidade; a razão de ser do MVP é disponibilidade rápida às pessoas usuárias para validação durante o uso, permitindo coleta de resultados reais, rápido aprendizado para equipes e evolução mais assertiva do produto.
Outros termos que serão abordados podem ser consultados neste breve Glossário 🤓
Considerações
- Por se tratar de uma solução real, para preservar a empresa e o produto, alguns dados foram omitidos, nomes modificados e alguns elementos visuais adaptados especialmente para divulgação deste artigo;
- O termo artefatos está sendo utilizado para se referir de forma genérica a diversos tipos de documentos e imagens virtuais;
- Este artigo tem por intenção apenas mostrar meu processo de design.
O desafio
Nesta experiência trabalhei lado a lado com o product owner (PO), e a nós foi lançado o desafio de criar uma solução nova, com escopo totalmente diferente do portfólio da organização em que atuamos — uma empresa de produtos B2B para fornecimento de dados — a partir de ideias e convicções de stakeholders de negócios. A demanda veio definida como:
Uma forma para organizar artefatos gerados pelas pessoas usuárias nos diversos aplicativos que compõem a plataforma da empresa.
O objetivo
Além de organizar artefatos, o objetivo da solução seria aumentar o engajamento na plataforma e integrar os aplicativos para que as pessoas visualizassem e acessassem os artefatos em um único local.
O processo de design
Como de costume, para uma apresentação didática do processo, eu o dividi em etapas: Entender, Definir, Desenhar, Validar e Desenvolver, mas considere que na prática as etapas se misturam e se complementam. Além disso, mesmo que o foco neste artigo seja o design, observe que tarefas também se misturam e como designer acho importante participar de trocas e definições estratégicas juntamente com PO e com a squad de desenvolvimento.
1. Entender
Participei apoiando o PO na sessão de kickoff com stakeholders, que no caso foram lideranças das áreas: tecnologia, produtos, marketing, sucesso de cliente, vendas e o próprio CEO. Nesta sessão o PO e eu recebemos o desafio e tiramos nossas dúvidas sobre a demanda do ponto de vista de expectativas de stakeholders, informações sobre solicitações de clientes e de pessoas usuárias que foram recebidas através de canais próprios e sobre histórico dos aplicativos da plataforma.
Em uma segunda sessão com stakeholders, facilitei a dinâmica “é, não é, faz, não faz” para que pudessem chegar a um consenso de visão da solução e juntos delinear com mais clareza a demanda e seus objetivos.
Como resultado desta etapa, foi obtida a seguinte visão:
A solução deverá ser um histórico indexado dos artefatos gerados em toda a plataforma de aplicativos, promovendo um fácil acesso a esses artefatos que serão organizados cronologicamente.
Ou seja, a ideia é que ao acessar uma lista os artefatos e cada item será um link para visualização rápida e/ou para acessar no aplicativo de origem do artefato.
2. Definir
Com todas as informações coletadas nas sessões anteriores juntamente ao objetivo de negócio, PO e eu começamos a:
- alimentar nossa Matriz CSD — expliquei mais sobre esta ferramenta neste artigo;
- definir um escopo inicial sem descartar ideias — costumo adotar um “estacionamento” para elas , falo disso no Glossário;
- desenhar um planejamento que, na parte de Design, incluiria não somente rabiscos e protótipos, mas principalmente entrevistas com pessoas clientes e usuárias da plataforma — uma vez que a demanda partiu de stakeholders precisamos ouvir as necessidades de quem está diariamente em contato com os produtos e serviços, como diria Don Norman “Você [designer] não é a pessoa usuária.”
3. Desenhar
Paralelamente à etapa “Definir”, pesquisei referências em soluções que tivessem a ver com nosso escopo inicial mesmo que em outras áreas de conhecimento ou de mercado: gestão de documentos (GED), produtos de armazenamento como Google Drive…
Semanalmente tínhamos uma sessão de acompanhamento com stakeholders onde o PO e eu apresentávamos nossas evoluções. Da minha parte, mostrei até mesmo rabiscos iniciais (alguns feitos à mão).
E, assim, fui idealizando o protótipo; como já trabalho de forma a padronizar e organizar elementos de interface no Figma (atualmente minha ferramenta favorita de prototipação) em pouco tempo consegui fazer um protótipo navegável; nesta etapa do trabalho foi importante ter bastante flexibilidade de ideias mas também argumentar com stakeholders a importância de uma validação com as pessoas usuárias.
4. Validar
A validação junto a pessoas usuárias foi feita remotamente via Google Meet, o recrutamento se deu com auxílio do PO via e-mail; para guiar as conversas com as pessoas usuárias, defini um breve roteiro e disponibilizei o protótipo navegável e considerei os seguintes objetivos:
- Descobrir a área de atuação da pessoa;
- Entender o fluxo de trabalho — como a pessoa utiliza a plataforma, quais os principais aplicativos, demandas por gerar e revisitar artefatos, sazonalidade dessas demandas;
- Analisar a interação com o protótipo — facilidade em encontrar e usar funcionalidades como busca, filtros, lista de resultados, distribuição cronológica…
- Coletar impressões gerais e validar a hipótese principal: “a solução resolve uma necessidade real das pessoas usuárias?”
O PO me auxiliou anotando pontos interessantes — a fim de facilitar as anotações e posterior tabulação destas conversas, criei uma tabela contendo as perguntas ideais e objetivos.
Nesta parte da validação obtivemos 12 entrevistas, das quais os principais insights e suas respectivas oportunidades de negócio que identificamos foram:
- as pessoas salvam os artefatos da plataforma em seus próprios repositórios/ dispositivos — espaço e armazenamento;
- muitas vezes, ao invés de apenas revisitar esses dados já salvos, as pessoas geravam novos artefatos para comparação — notificar/ sugerir atualização por período pré definido;
- as pessoas geram artefatos por aplicativos e também fontes diferentes — acompanhamento por dashboard;
- a informação visual agrega valor para as pessoas devido à rapidez e praticidade ao consultar algum artefato no histórico — permitir visualização rápida ou de resumo de deixar as funcionalidades abrir/ fazer download do artefato inteiro como opcionais.
Ainda na etapa de validação gostaria de citar a sessão de Análise Heurística feita juntamente com a equipe de designers; esta sessão teve como objetivo refinar o protótipo do MVP e garantir padronização visual de acordo com: aplicativos que cada designer era responsável, melhorias e a plataforma como um todo.
5. Desenvolver
Decisões de design devem estar aliadas às possibilidades técnicas e por isso, o PO e eu fizemos sessões de viabilidade junto à squad de desenvolvimento. Eu poderia ter colocado esta parte na validação, mas dela surgem mais adaptações e re-priorização de itens de MVP do que efetivamente um corte no escopo — o que pode ocorrer em validações com pessoas usuárias quando a solução não condiz com desejos e necessidades, de nada adianta um produto super inovador se ninguém vai utilizar.
Sobre a priorização de itens de MVP, o PO fez de acordo com resultados obtidos das validações de Design. Isso foi possível pois todas as etapas acabam gerando algum entregável que serve de apoio e de documentação.
Falando em documentação, nesta etapa criei e apresentei todo o arquivo de design específico e facilitado para o handoff* à equipe de desenvolvimento.
*Sei que atualmente o próprio Figma lançou uma funcionalidade que propõe o handoff mais fluido para times de desenvolvimento. Sugiro aderir a forma que funciona em sua equipe; à época funcionou desta forma apresentada aqui ;)
Próximos passos
Por se tratar de uma solução com abordagem MVP, alguns insights obtidos e até mesmo funcionalidades definidas no processo acabam ficando para outro momento — o que é normal.
E para não perder de vista é interessante que esses insights estejam acessíveis seja em um “estacionamento de ideias”, em um radar, ou até mesmo dividir em ondas para validação e/ou de desenvolvimento de funcionalidades pois a evolução já é uma expectativa inerente ao MVP.
Confira abaixo alguns itens que cheguei a desenhar em protótipo mas não foram contemplados no MVP:
E algumas ideias e insights que ficaram para outro momento da solução:
- Exportar artefatos sem precisar acessar o aplicativo de origem;
- Configurar tempo de validade de artefatos;
- Notificações para a pessoa usuária poder atualizar um artefato quando este estiver obsoleto;
- Possibilitar à pessoa usuária armazenar e gerenciar os próprios artefatos e não somente os links .
Bom, minha participação se deu até aqui. Até a próxima!